Alguns "bandidos de toga" movimentaram R$ 173,6 milhões em dinheiro vivo. Decisão de ministro do STF suspende investigação e deixa todos sob suspeita.

Uma varredura determinada pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça) na movimentação financeira de todos os servidores e magistrados do Judiciário -com exceção dos tribunais superiores- está na origem da guerra deflagrada no mundo jurídico. Determinado em julho de 2010, o levantamento atingiu 216.800 pessoas -entre servidores, juízes e parentes- e apontou que 3.438 deles tiveram movimentações consideradas suspeitas. A corregedoria contesta esses números. Além disso, serviu de base para que, no início deste mês, a corregedora nacional de Justiça, Eliana Calmon, determinasse uma devassa em 22 tribunais. O objetivo era apurar um eventual enriquecimento de seus integrantes. 

A varredura provocou reação indignada da AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros), que acusa o conselho de quebrar ilegalmente o sigilo bancário e fiscal dos integrantes do Judiciário. A entidade pediu ao STF (Supremo Tribunal Federal) que anulasse as inspeções e teve o pedido aceito pelo ministro Ricardo Lewandowski, que na última segunda-feira concedeu liminar suspendendo a investigação recém-iniciada pelo conselho. Como a Folha revelou ontem, a decisão beneficiou o próprio Lewandowski, porque também suspendeu uma investigação sobre pagamentos feitos a vários juízes por conta de uma antiga dívida trabalhista. Por sua vez, o CNJ alega que tem o dever de investigar os servidores do Judiciário, incluindo as suspeitas de enriquecimento ilícito.

O levantamento sigiloso sobre movimentações financeiras atípicas no Judiciário foi solicitado em julho de 2010 pelo então corregedor nacional de Justiça, ministro Gilson Dipp. Ele solicitou ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), órgão que pertence ao Ministério da Fazenda, a análise dos CPFs de todos os membros dos tribunais estaduais, federais, trabalhistas e militares. Além de apontar 3.438 casos suspeitos, o Coaf informou que as movimentações atípicas se concentraram em cinco Estados (São Paulo, Rio, Minas, Bahia e Paraíba) e no Distrito Federal. De R$ 173,6 milhões de operações feitas em dinheiro, e postas sob suspeita, R$ 60,6 milhões estão concentradas na Justiça paulista (estadual, militar e do Trabalho), no TJ do Distrito Federal e no TJ da Bahia.

Nesse grupo, segundo o Coaf, oito pessoas movimentaram R$ 16,7 milhões: dois titulares de cartórios, três juízes, um desembargador, um aposentado e um empresário. Por entender que o CNJ "passou a investigar eventual prática de crime, e não de infração disciplinar administrativa", a AMB, a Anamatra (Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho) e a Ajufe (Associação dos Juízes Federais do Brasil) requereram ao Supremo a anulação e imediata suspensão dessas investigações.

Como o ministro Joaquim Barbosa, relator sorteado, não estava no STF, o pedido foi distribuído ao ministro Ricardo Lewandowski, que concedeu a liminar. As três associações alegaram que a corregedoria submetera 216.800 mil magistrados e servidores "ao constrangimento ilegal de quebra de sigilo bancário e fiscal". As entidades sustentaram que o plenário do CNJ não foi informado previamente sobre o pedido ao Coaf. "Tomei a decisão, em face da amplitude das providências determinadas pela Corregedoria do Conselho Nacional de Justiça, que compreendem a quebra do sigilo de dados fiscais e bancários de um número indeterminado e indiscriminado de magistrados e servidores", afirmou Lewandowski, em nota.

Eliana determinou que as inspeções sigilosas começassem em São Paulo. A ordem era examinar declarações de bens de quem tivesse informado rendimentos anuais superiores a R$ 500 mil nos últimos cinco exercícios.No ato, a corregedora alertou que a conclusão dependeria de verificar-se a compatibilidade dos bens e rendas: "A simples movimentação financeira de altas somas pode não caracterizar ilícito, mas pagamento regular de créditos salariais, heranças e prêmios de loteria".(Da Folha de São Paulo)

8 comentários

Bom dia Coronel,
A Receita Federal tem um programinha que lê as declarações prestadas por empresas, acerca do imposto de renda retido na fonte. Se fossem consultados os cpf dessa quadrilha citada em sua nota, em relação às corretoras de valores que operam com fundos de ações das bolsas, garanto que o Brasil teria uma visão bem mais clara do que é corrupção e entenderia melhor o significado dos termos "locupletar" e "enriquecimento ilícito".
Tem muito servidor público, dos três poderes, ganhando vencimentos e subsídios de até 300 mil por ano e movimentando dezenas e centenas de milhões de reais nesses fundos.
É o "el dorado" que os espanhóis não acharam nas américas.

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O MUNDO PLANO, O ESFÉRICO, O CNJ E A UNANIMIDADE.

Não sei bem porquê, Coronel, mas está se criando uma uninanimidade sobre esse tal de CNJ e seus superpoderes.
Fui pesquisar e verifiquei que ele não está acima do STF que é, o último patamar de recursos.
Assim como o STF pode, como parece ser verdade, ser preenchido por gente simpática ao Executivo, o mesmo pode se dar com o CNJ.
A mim, lendo as tarefas do mesmo, me pareceu que a Corregedoria não teria poderes para quebrar sigilos. Não tem sentido haver corregedorias estaduais de Justiça e um superpoder em Brasília que passa por cima de todos e quebra sigilos sem ordem judicial. O fato de ser um conselhgo não lhe dá poderes jurisdicionais.
E foi o caso. E esse superpoder pode estar orientado pelo Executivo. Isso é um imenso perigo para a democracia.
A Corregedoria do CNJ não tem função judicial - não pode quebrar sigilos - só tarefas administrativas e de aconselhamento! E ele quebrou o sigilo de mais de 200 mil pessoas! Isso é um escândalo!
Do modo como estão agindo, o CNJ virou uma superpolícia. Acho que fugiu às suas finalidades.
Sei que há dúvidas sobre a probidade de alguns juízes, mas isso não nos autoriza a devassar as contas de cidadãos por uma via torta. Lembremos o caso do caseiro Francenildo.
Acho que é muito temerário usar a norma marxista:
os fins justificam os meios.
Escrevo isto porque leio notícias e comentários que parecem uma unanimidade. E penso, então, em Galileu. Contra a unanimidade da Terra Plana Galileu defendeu a idéia de que era esférica. Ele estava certo.
Não tenho conhecimento jurídico para dizer que estou certo, nem me passa pela cabeça, apenas
creio que estamos fazendo tudo aquilo que os totalitários gostariam: acabar com o que resta do Judiciário. É o caminho para a Venezuela, a Argentina e a Bolívia.

Capitão Gutenberg.

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Prêmios de loteria?????????????
Isso é piada?
SP joga 65% das apostas da Mega Sena e talvez não ganhe 10%.

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Coronel,
Como é de praxe da quadrilha no poder, esses urubus também vão tentar de tudo para escapar da lei (que eles manipulam), mas ainda que a tarefa seja dura e o caminho tortuoso, com absoluta certeza, esses CALHORDAS TODOS não escaparão da fúria do povo!

Esse STF de bosta, já extrapolou na prevaricação, agora vão levar o que merecem!

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Sabe, tenho uma pendenga judicial que rola a anos, mais de uma década. O juiz tem aceitado da parte contrária tudo o quanto de interpelações e recursos os mais esdrúxulos possíveis - coisas sem eira nem beira, de estarrecer qualquer advogado chinfrim -, fazendo o processo rolar indefinidamente.

Mas devo acreditar que todos os juízes são de uma moralidade e idoneidade exemplares, sem contestação. A AJD e o Supremo são exemplos cabais disso.

Passa longe de mim oferecer um regalo ao magistrado para apressar ao bom termo da minha contenda.

Pra que deve existir uma corregedoria nacional de Justiça? Dinheiro jogado fora. As corregedorias regionais dão conta do recado, já que vão ter pouquíssimo trabalho.

Magistratura e corrupção sempre estarão de lados opostos, então não há de se duvidar do terceiro poder da República... de bananas.

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Agir em causa própria e intimidar os outros, isso eles sabem fazer como ninguém...

"Procurador propôs Ação Civil Pública que o beneficiaria

A tentativa do procurador da Assistência Judicial do Distrito Federal, Antônio Carlos Fontes Cintra, por meio de uma Ação Civil Pública responsabilizar a BRB Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários – corretora do Banco Regional de Brasília – pelo insucesso das aplicações dos fundos de investimentos financeiros que administra, não deu resultados e ainda lhe trouxe grandes dores de cabeça. Ele acabou acusado de agir em defesa do seu próprio bolso. (...)"

http://www.conjur.com.br/2011-dez-22/atuando-defensoria-procurador-propos-acao-civil-publica-beneficiaria

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Não são juízes, são homens de negócios.

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Sei não, mas acho que terá juiz que precisará pegar a sua toga e usar para voar para bem longe.

Toga voa, né?

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